Por que 'Emilia Pérez', com recordewinspark casino13 indicações ao Oscar 2025, coleciona polêmicas e prêmios:winspark casino

Cena do filme com a atriz Selena Gomez

Crédito, Netflix

Legenda da foto, O musical sobre o chefão mexicano das drogas vem recebendo críticaswinspark casinodiversos lados

Emilia Pérez teve o maior númerowinspark casinoindicações ao prêmio deste ano e quebrou o recordewinspark casinoindicações para um filme não faladowinspark casinoinglês. O longa concorre aindawinspark casinocategorias como melhor direção, melhor edição, melhor fotografia, melhor roteiro adaptado e melhor atriz coadjuvante.

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Karla Sofía Gascónwinspark casinocena do filme

Crédito, Netflix

Legenda da foto, Karla Sofía Gascón estrela o filme como um senhor das drogas que passa pela transiçãowinspark casinogênero

O filme mescla vários gêneros para contar a históriawinspark casinoum senhor das drogas mexicano. Ele faz a transição para se tornar mulher e busca restaurar a justiça pelos "desaparecidos" do país — pessoas mortas e ausentes, vítimas da violência relacionada aos crimes e às drogas.

Emilia Pérez também fez história com a indicaçãowinspark casinoKarla Sofía Gascón para o prêmiowinspark casinomelhor atriz. Ela é a primeira mulher trans indicada nesta categoria.

De um lado, a caracterização da protagonista transgênero do filme gerou controvérsias. A organização LGBTQIA+ americana Glaad a qualificouwinspark casino"retrógrada", mas este não é o maior motivowinspark casinodiscussões sobre o filme no momento.

A principal polêmica envolvendo Emilia Pérez éwinspark casinorepresentação do México, que sofreu críticas cada vez mais fortes ao longo da temporadawinspark casinopremiações.

Antes mesmo da estreia do filme no país,winspark casino23winspark casinojaneiro, críticos e figuras da indústria cinematográfica mexicana já se queixavam da participação inexpressivawinspark casinomexicanos na equipe e no seu elenco principal — e da própria representação do paíswinspark casinosi, sem falar no seu tema assustador.

Críticas viralizaram

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Após o sucessowinspark casinoEmilia Pérez no Globowinspark casinoOuro, surgiu uma enxurradawinspark casinocríticas entre os usuários mexicanos do X, antigo Twitter.

Em uma postagem que atingiu 2,6 milhõeswinspark casinovisualizações, o roteirista mexicano Héctor Guillén marcou a Academiawinspark casinoArtes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, no dia seguinte ao Globowinspark casinoOuro.

Ele publicou um pôster que dizia: "O México odeia Emilia Pérez. Escárnio racista e eurocentrista. Quase 500 mil mortos e a França decide fazer um musical."

"Tentei copiar a forma hollywoodianawinspark casinopromover filmes [para conseguir as premiações], sabe, quando eles basicamente dizem 'filme incrível'", contou Guillén à BBC. "Eu quis fazer a contrapartida, quis divulgar outra visão do que é Emilia Pérez para muitoswinspark casinonós, mexicanos."

Guillén chama Audiardwinspark casino"grande cineasta", mas afirma que a decisãowinspark casinofazer a maioria absoluta do filmewinspark casinoestúdios pertowinspark casinoParis, na França, e a formawinspark casinoque a história aborda um doloroso tema nacional do México contrariaram muitas pessoas nawinspark casinorede social.

"Existe uma guerra das drogas, com cercawinspark casino500 mil mortos [desde 2006] e 100 mil desaparecidos no país", prossegue ele. Os números mencionados por Guillén são estimativas recentes do governo mexicano.

"Ainda estamos imersos na violênciawinspark casinoalgumas regiões. Você está falandowinspark casinoum dos temas mais difíceis do país, mas não é apenas um filme qualquer, é uma ópera. É um musical."

"Por isso, para nós e para muitos ativistas, é como se você estivesse brincando com uma das maiores guerras do país desde a Revolução Mexicana [1910-1920]", prossegue Guillén.

"Parte do roteiro trata das mães que procuram os [filhos] desaparecidos, um dos grupos mais vulneráveis do México. E não houve nenhuma palavra para as vítimas, nos quatro discursoswinspark casinoaceitação do Globowinspark casinoOuro."

Os paiswinspark casino43 estudantes desaparecidoswinspark casino2014 se manifestaramwinspark casinofrente ao Palácio Nacional do México no ano passado.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Os paiswinspark casino43 estudantes desaparecidoswinspark casino2014 se manifestaramwinspark casinofrente ao Palácio Nacional do México no ano passado. O caso é um dos mais famosos do país e continua sem solução

Guillén também questiona por que não se tomou a decisãowinspark casinoincluir mais profissionais mexicanos na produção do filme.

Uma das quatro atrizes principais, Adriana Paz, é mexicana. As demais são Zoe Saldaña (vencedora do Globowinspark casinoOurowinspark casinomelhor atriz coadjuvante),winspark casinoascendência dominicana, mas nascida nos Estados Unidos; Karla Sofía Gascón, que é espanholawinspark casinoum subúrbio da capital Madri, embora tenha trabalhado extensamente na TV mexicana; e Selena Gomez, a mais famosa, americanawinspark casinoorigem mexicana.

Depoiswinspark casinocrescer falando espanhol, mas perderwinspark casinofluência, Gomez precisou aprender novamente o idioma para o papel — ewinspark casinopersonagem Jessi foi reformulada para se tornar mexicano-americana,winspark casinovezwinspark casinopuramente mexicana.

Já a personagemwinspark casinoSaldaña, a advogada Rita, foi alterada para refletir a ascendência dominicana da atriz,winspark casinovezwinspark casinomexicana. E Audiard não fala espanhol.

"Sua formawinspark casinoproduzir o filme ignora muitas pessoas da indústria [cinematográfica] do México que já falaram sobre o tema, sem considerar roteiristas mexicanos ou outros atores mexicanos alémwinspark casinoAdriana, que fez um trabalho excelente", defende Guillén.

Ele menciona o comentário "realmente doloroso", da diretorawinspark casinoelenco do filme — Carla Hool, nascida no México — durante uma entrevista da Fundação Sag-Aftra, nos Estados Unidos. Ela declarou que eles procuraram atores mexicanos ewinspark casinooutras partes da América Latina, mas, no fim das contas, acreditavam terem escolhidos os melhores atores para o trabalho.

"Ter alguns mexicanos não faz com que o filme deixewinspark casinoser uma produção eurocêntrica", conclui Guillén.

Produtowinspark casinoexportação

Pode haver motivos comerciais por trás da escolha do elencowinspark casinoEmilia Pérez. Gomez e Saldaña, sem dúvida, são nomes globais maiores do que muitos atores mexicanos.

O desempenhowinspark casinoGomez, particularmente, gerou outro momento viralwinspark casinocríticas contra o filme — desta vez,winspark casinoum popular podcast mexicano sobre cinema, Hablandowinspark casinoCine.

Nele, o ator Eugenio Derbez declarou à apresentadora do podcast, Gaby Meza, que a pronúncia do idioma espanholwinspark casinoGomez foi "indefensável".

A afirmação levou Selena Gomez a comentar,winspark casinouma postagem do trecho do podcast no TikTok: "Desculpe, fiz o melhor que pude com o tempo que me foi dado."

Derbez se desculpou pelo comentário posteriormente e Meza declarou que a entrevista como um todo não foi uma crítica à atuaçãowinspark casinoGomez no filme (indicada para o Globowinspark casinoOuro e para o prêmio Bafta), nem sobre o seu sotaquewinspark casinoespanhol, já que ela interpretava uma norte-americana que não tinha o espanhol como primeiro idioma.

"A intenção foi observar que, se você não fala espanhol, pode simplesmente acompanharwinspark casinoboa atuação com legendas", explica Meza. "E ela realmente oferece uma boa interpretação."

"O que não ficou bom é que existe uma desconexão entre as palavras que ela diz ewinspark casinocompreensão delas. Seu corpo,winspark casinovoz ewinspark casinoentonação dizem uma coisa, mas o diálogo não coincide com o que ela está dizendo."

"E isso não é culpawinspark casinoSelena, pois eu acho que ela não recebeu as indicações adequadas, as ferramentas parawinspark casinointerpretação", prossegue Meza. "O diretor é francês e Selena é dos Estados Unidos, mas eles se comunicamwinspark casinoespanhol."

Selena Gomez como Jessi no filme

Crédito, Netflix

Legenda da foto, Jessi, a personagemwinspark casinoSelena Gomez, foi reformulada e passou a ser mexicano-americana

Meza destaca que, nawinspark casinoopinião, o filme é "voltado para a exportação".

"Se você visitar os resorts no México, os turistas compram objetos que parecem mexicanos, mas são fabricadoswinspark casinooutros lugares", explica ela. "Neste filme, você pode observar referências à cultura mexicana e ele pode falar sobre o México, mas não foi feito no México."

A defesa do cineasta

Em meio à enxurradawinspark casinocríticas, algumas acusações sobre o filme são incorretas.

Uma postagem no X, por exemplo, chamou seu diretorwinspark casino"cidadão francês que nunca pôs os pés no México". Mas Audiard contou à BBC ter visitado o México diversas vezes, tentando filmar no país e escalar os atores principais.

"Tive a ideiawinspark casinofazer uma ópera com Emilia Pérez e fiquei um pouco assustado", ele conta. "Senti que precisaria injetar um poucowinspark casinorealismo no filme."

"Por isso, fui ao México, talvez duas ou três vezes, caçando talentos durante o processowinspark casinoescolha do elenco. Mas alguma coisa não estava funcionando. E percebi que as imagens que eu tinhawinspark casinomente [para o filme] simplesmente não combinavam com a realidade das ruas do México."

"Eram simplesmente muitos pedestres, era realista demais", explica ele. "Eu tinha uma visão muito mais estilizadawinspark casinomente. Por isso é que o trouxemos para Paris e reinjetamos nele o DNA da ópera."

Audiard também destaca que "pode ser um poucowinspark casinopretensão minha, mas será que Shakespeare precisou viajar até Verona para escrever uma história sobre aquele lugar?"

A julgar pelo sucesso do filme na temporadawinspark casinopremiações, muitos críticos e eleitores devem concordar com Audiard — ou, pelo menos, acreditar que Emilia Pérez tem fortes méritos artísticos, independentemente desta questão.

"Senti que era uma obra imensamente inovadora quando a vi", declarou o críticowinspark casinocinema britânico James Mottram. "Quero dizer que é uma nova abordagem da história dos cartéis, um musical muito incomum, uma história transgênero."

"A simples combinação destes três elementos é uma façanhawinspark casinohabilidade narrativa. Admiro a coragem do filme, mais do que qualquer outra coisa."

"Audiard já trabalhou no gênero crime antes (se é que podemos chamar estewinspark casinoum filmewinspark casinocrime), com obras como De Tanto Bater, Meu Coração Parou (2005). Mas este parece totalmente novo", prossegue Mottram.

"E, como crítico, é o que sempre procuro — alguém que desenvolva personagens polêmicos, introduzindo uma nova visão sobre eles."

"Você pode chamar Emilia Pérezwinspark casinonovela ouwinspark casinoópera. E é,winspark casinocerta forma, uma fantasia", segundo o crítico. "Não acho que pretenda ser um retrato autêntico dos cartéis."

"Mas é difícil, posso entender por que alguns mexicanos ficaram ofendidos com este tema tão sensível para eles e porque foram poucos [os mexicanos] envolvidos nawinspark casinoprodução."

"Também surgiram queixas da comunidade trans a respeito do filme. Na verdade, Audiard foi atacadowinspark casinotodos os lados, talvezwinspark casinoforma compreensível. Mas acho que, quando você faz algo perigoso e polêmico, isso sempre irá acontecer", conclui James Mottram.

Jacques Audiard afirma que teve a ideia do filme depoiswinspark casinoler parte do romance Écoute ("Ouça",winspark casinotradução livre), do escritor francês Boris Razon.

Em um dos capítulos, o livro apresenta, como personagem secundário, um senhor das drogas "que queria fazer a transição", mas "Boris não deu continuidade à ideia", nas palavraswinspark casinoAudiard.

Jacques Audiard

Crédito, Netflix

Legenda da foto, Jacques Audiard pediu desculpas 'se existem coisas que parecem chocantes'winspark casinoEmilia Pérez

"Existem, na verdade, duas questões sensíveis neste filme: a identidade transgênero e os desaparecidos no México", destaca ele.

"É algo que não consigo explicar bem racionalmente, mas havia uma ligação entre os dois temas quando imaginei esta história, se este gângster, responsável por este mal, se redime por ele — e, por extensão, por todo o México — com esta transição, mudando a si próprio."

"E acho que o uso da ópera, do canto e da dança permite um certo distanciamento e torna a mensagem muito mais eficaz", explica ele. "Ela penetra muito mais profundamente do que se fosse documentadawinspark casinoforma muito realista."

Ainda assim,winspark casinorecente entrevista coletiva no México, Audiard pediu desculpas aos seus críticos.

Ele disse que o filme é uma ópera e, portanto, não é "realista" — e que "se existem coisas que parecem chocanteswinspark casinoEmilia Pérez, realmente sinto muito... O cinema não fornece respostas, ele só faz perguntas. Mas, talvez, as perguntaswinspark casinoEmilia Pérez estejam incorretas."

Mesmo com todo o furor, o filme também tem grandes apoiadores no México. Um deles é Guillermo Del Toro, diretorwinspark casinoA Forma da Água (2017).

Para ele, Audiard é "um dos mais fabulosos cineastas vivos", segundo declarouwinspark casinouma conversa no palco com o diretor, filmada pelo Sindicato dos Diretores dos Estados Unidoswinspark casinooutubro passado.

Issa López, diretora e roteirista da série True Detective: Terra Noturna (2024), declarou que o filme é uma "obrawinspark casinoarte". E, sobre a controvérsia, Adriana Paz fez a seguinte declaração:

"Ouvi algumas pessoas dizerem que o filme é ofensivo ao México. Eu realmente gostariawinspark casinosaber por quê, pois não senti desta forma."

"Questionei algumas pessoaswinspark casinominha confiança, não apenas como artistas, mas como pessoas, e eles não percebem desta forma. Por isso, estou tentando entender."

Zoe Saldaña declarou à BBC que é importante permitir que os cineastas transmitamwinspark casinovisão artística, mesmo quando o tema é delicado.

"Acho que estamos atravessando tempos muito sensíveis, com comunidades deixando muito claro se estão sendo representadaswinspark casinoforma precisa", segundo ela.

"E eu hesito entre respeitar isso, que é meu objetivo principal, mas também dar espaço para que cineastas ou contadoreswinspark casinohistórias cuidadosos tenham uma abordagem muito especial à questão — e dar espaço a eles, mesmo que não façam parte daquela comunidade."

"Porque, às vezes, eles podem ter a melhor história para contar. E acho que Jacques sempre foi respeitoso, sempre foi muito cuidadoso, com awinspark casinoformawinspark casinoabordagem", afirma a atriz.

Saldaña ficou agradecida pelo filme ter lhe dado a oportunidadewinspark casinotrabalhar no seu idioma nativo, o espanhol. "Nunca consegui fazer isso antes, exceto por um filme independente na República Dominicana, quando era muito jovem. Mas nunca nos Estados Unidos."

Ela também afirma que não se preocupou com o fatowinspark casinoAudiard não falar espanhol, pois ele já havia feito filmeswinspark casinooutros idiomas, além do francês — como O Profeta (2009) e Dheepan: O Refúgio (2015), vencedor da Palmawinspark casinoOurowinspark casinoCannes.

"Ele fez um desafio a si mesmo e questionou essa gravidade que nos prende pelo idioma", prossegue ela, "e não se eximiuwinspark casinose conectar com outras pessoas."

"Sempre o admirei porwinspark casinocuriosidade pelas outras culturas e por contar histórias sem se apropriar delas", conclui Saldaña.

Zoe Saldañawinspark casinocena do filme

Crédito, Netflix

Legenda da foto, Zoe Saldaña conta que sempre admirou Audiard porwinspark casinocuriosidade pelas outras culturas. Em Emilia Pérez, ela interpreta a advogada Rita

Mas Emilia Pérez, agora, faz parte do debate cultural que procura descobrir se a autenticidade cultural é fundamental para contar histórias ou se as produções ocidentais devem ter mais consciênciawinspark casinoque estarão sujeitas a acusaçõeswinspark casinoapropriação cultural, quando os diretores trataremwinspark casinohistóriaswinspark casinopaíses e culturas fora dawinspark casinoespecialidade.

Questionado se ele acha que o filme deve ser premiado com o Oscar, Héctor Guillén responde que "isso simplesmente mostra como a indústria funciona, que ela está longe do que acontece na América Latina e no México, mesmo que a distância da Califórnia não seja tão grande assim".

O roteirista afirma que ele "simplesmente gostaria" que a produção tivesse sido "mais aberta" para orientações vindas do México.

"Acho que Audiard é um grande cineasta e que ele foi bem intencionado com o filme", explica ele. "Não acho que ele seja um francês racista que queira ridicularizar nossa cultura."

"Mas ele poderia ter sido mais aberto para os criadores e ativistas mexicanos, discutindo a forma corretawinspark casinocontar a história. Porque realmente achei, no final do filme, que aquela era uma oportunidadewinspark casinotermos uma obra notável e audaciosa, que trilhasse o caminho certo."

No Brasil, Emilia Pérez estreia nos cinemas no dia 6winspark casinofevereiro.