Nanismo, drogas e religião: a vidabet365 visaNelson Ned, um dos cantores brasileiros mais populares no exterior:bet365 visa

Nelson Ned no microfone com multidão atrás

Crédito, Acervo pessoal/Monalisa Ned

Legenda da foto, Nelson Ned canta para 80 mil pessoasbet365 visaBogotá

Praticamente cego e locomovendo-se numa cadeirabet365 visarodas, ele expressaria ao jornalista o desejobet365 visaser lembrado como um homem romântico, intenso e amoroso.

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Limpar o cache do seu navegador e o DNS local pode ajudar a resolver o problema, especialmente se o erro estiver sendo causado por algum problema bet365 visa {k0} sua própria máquina ou conexão.

2. Desative plugins, temas, CDN e seu firewall

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Fim do Matérias recomendadas

Foi a última entrevistabet365 visasua vida.

"O Nelson já não tinha muita capacidadebet365 visaconcentração", afirma Barcinski.

"Aos poucos, ele foi se esquecendo das coisas, dizendo frases desconexas, e a gente encerrou nossa conversa. Uma irmã já havia me avisado que ele vinha sofrendo com problemas neurológicos."

Tamanha vulnerabilidade não condizia com as memórias que o jornalista carregava desde os anos 1970.

"A exemplobet365 visatodo mundo que foi criança na época, lembro do Nelson graças aos programasbet365 visaauditório. Era uma presença visualmente impactante, aquela voz enorme saindobet365 visaum corpo tão pequeno. Ele se tornou famoso num tempobet365 visaque pessoas com nanismo tinham uma vidabet365 visaclausura, escondidas pelos pais."

As filhas do cantor, que também têm nanismo, falaram com a reportagem.

"Lábet365 visacasa sempre tinha um montebet365 visaartista", lembra a atriz Verônica Ned.

"Eu aprendi a nadar com o Chacrinha, e nossa faxineira era apaixonada pelo Raul Gil. Para a gente, isso tudo era muito natural."

Nelson com os filhos ao ladobet365 visaboneco do Mickey

Crédito, Reprodução/Instagram/@nelsonned.oficial

Legenda da foto, Nelson com os filhos na Disney: para reforçar autoestima das crianças, dizia que eram monarcas da Nedlândia, um reino imaginário governado por pessoas pequenas
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Que História!

A 3ª temporada com histórias reais incríveis

Episódios

Fim do Que História!

Numa viagem a Miami, Verônica e a irmã perceberiam que o pai era um astro.

"O povo não deixava a gente andar", recorda-se a fonoaudióloga Monalisa Ned.

"Os latinos da cidade gritavam,bet365 visaespanhol, 'saca una foto!'. Quando entramos no hotel, as camareiras enlouqueceram, apertando nosso rosto, dando uns tapas brutos, chamando a gentebet365 visa'Ned’s babies'. E meu pai dava risada, dizendo que era famoso pra caramba."

Até meados da décadabet365 visa1980, Nelson Ned foi um dos cantores brasileiros mais populares do planeta, abarrotando qualquer estádio ou aeroportobet365 visaque pusesse os pés.

Singles debet365 visaautoria eram uma presença constante nas paradas do continente americano, da Península Ibérica e da África lusófona. Ignorado pelas novas gerações, ele figura ainda hoje entre os maiores vendedoresbet365 visadiscos na história do mercado fonográfico nacional.

Passados onze anos do fatídico encontrobet365 visaCotia, Barcinski publicoubet365 visanovembro do ano passado o livro Tudo Passará – A Vidabet365 visaNelson Ned, o Pequeno Gigante da Canção (Companhia das Letras).

"Esse cara é tudo que um biógrafo pode querer. Sempre foi uma pessoabet365 visaextremos — o extremo da riqueza e da penúria, o extremo da libertinagem e da caretice, um sujeito capazbet365 visaamar e odiar com o mesmo fervor. Acho um personagem incrível, daqueles casos mais estranhos que a ficção", diz o jornalista.

'Um showbet365 visanoventa centímetros'

Capabet365 visadisco mostra Nelson ao ladobet365 visafita métrica

Crédito, Reprodução/Discogs

Legenda da foto, Na capabet365 visaseu primeiro disco, Nelson Ned teve a altura exploradabet365 visaforma sensacionalista

Nelson Ned D’Ávila Pinto nasceubet365 visaUbá, interiorbet365 visaMinas Gerais, no dia 2bet365 visamarçobet365 visa1947. A mãe era soprano e multi-instrumentista; os tios tocavam flauta e violino. Regularmente, a família promovia sarausbet365 visamúsica clássica.

"Era meio que um ritual", lembra Verônica. "Meu avô assistia ao Jornal Nacional e desligava a TV. Depois, minha avó se sentavabet365 visafrente ao piano, com todo mundobet365 visavolta, e tocava até as dez da noite. Quando a gente viajava para o sítio, ela ficava no acordeon. Quase todo dia rolava essa seresta."

Nelson foi o primeiro membro da família a nascer com deficiência. Ele sofriabet365 visadisplasia espondiloepifisária, um tipo rarobet365 visananismo, causado por mutações genéticas.

"Meu pai tinha uma caixa toráxica enorme e um pulmão bem forte", explica Monalisa.

"Nossa tendência é sofrer uma escoliose, uma curvatura acentuada na coluna, mas isso não aconteceu com ele, talvez por ter praticado natação durante a juventude. Aí a musculatura acabou formando uma espéciebet365 visacolete, e creio que isso tenha favorecido o canto, naquele estilo tenorzão que todo mundo conhece."

Desde pequeno, Nelson chamava a atenção. Aos três anos, tevebet365 visaestreia na Hora do Guri, programa radiofônico que lançava artistas mirinsbet365 visaUbá.

Em 1961, já morando na capital mineira, apresentou-se no Showbet365 visaPrêmios DDE, atração veiculada pela TV Itacolomi, canal 4bet365 visaBelo Horizonte.

A convite da mesma emissora, interpretaria sucessosbet365 visaElvis Presley e Chubby Checker no Cirquinho do Bolão, espetáculo infantil patrocinado pela Lacta.

A fábricabet365 visachocolates o empregava também como animadorbet365 visarua — ele cantava numa Kombi cheiabet365 visabombons, percorrendo todas as escolas da cidade.

Dois anos depois, mudou-se para o Riobet365 visaJaneiro. Ali, foi acolhido por Silvio Santos, Hebe Camargo e Chacrinha.

"Num primeiro momento, a relação dele com a mídia era bastante cordial", observa Barcinski.

"A imprensa estava satisfeita por ter descoberto um menino talentoso, e ainda por cima 'anão', como se dizia na época. As matérias continham várias piadas duvidosas com a altura dele, algo impensável nos diasbet365 visahoje."

"Mas, apesar disso, eram simpáticas ao Nelson, retratado sempre como um garoto batalhador, um jovem superando o nanismo através da música."

Em marçobet365 visa1963, a revista O Cruzeiro publicou uma reportagembet365 visaduas páginas a seu respeito.

"Ele recebe cumprimentos olhando para cima", dizia o texto. "Sob os refletores, mostra o verdadeiro tamanho do seu talentobet365 visagente grande."

A matéria continha uma manchete sensacionalista, reaproveitada no ano seguinte como título do primeiro álbum do cantor: Um Showbet365 visaNoventa Centímetros.

Na capa do LP, Nelson aparece ereto, junto a uma fita métrica, vestindo smoking sob a luzbet365 visaum holofote azul. Sua verdadeira altura, intencionalmente omitida pelos executivos da gravadora Polydor, erabet365 visa1,12 m.

"Eu senti como era pesado o meu corpo pequeno", diria ele sobre essa estratégiabet365 visamarketing. "Eu não tinha cor, forma física, era apenas uma sombra branca para os produtores. Um simples anãozinho grotesco."

O disco, com doze temas românticos, mostrou-se um fracassobet365 visavendas, e o cantor foi dispensado pela gravadora.

'Tudo passará'

Capabet365 visadisco mostra Nelson Ned posando para fotobet365 visasala

Crédito, Reprodução/Discogs

Legenda da foto, Tudo Passará, segundo LPbet365 visaNelson Ned, marcariabet365 visaconsagração mundial. A faixa-título foi o maior sucessobet365 visasua carreira

Nos anos seguintes, Nelson Ned estreitaria laços com Chacrinha.

"Ele foi como um pai para mim", disse. "Um homem respeitador, carinhoso, que acreditou no meu talento."

De temposbet365 visatempos, o apresentador convidava Nelson para acompanhá-lo nas gravaçõesbet365 visaseu programa, veiculado pela TV Excelsior,bet365 visaSão Paulo.

Nessas viagens, o artista conheceria as boates da cidade, realizando shows durante a noite; ao amanhecer, visitava gravadoras numa tentativabet365 visaemplacar seu trabalho.

Assim, conheceu Leonardo Schultz, maestro que o levaria à capital portenhabet365 visa1968, como atração do Festival Buenos Airesbet365 visala Canción. Nelson mostrou a ele uma música ainda inédita a ser apresentada no evento: Tudo Passará.

Schultz apossou-se da obra, negando créditos ao brasileiro.

Pouco depois, a balada ganhou uma gravaçãobet365 visaespanhol, na voz do britânico Matt Monro, um dos cantores favoritosbet365 visaFrank Sinatra. Versõesbet365 visainglês, francês, turco, búlgaro, alémbet365 visainstrumentais, se sucederiam nos meses seguintes — todas citando Schultz como autor.

Nelson, porém, já havia registrado a música e ajuizou um processobet365 visaplágio contra o maestro —bet365 visa1975, um tribunalbet365 visaBuenos Aires daria ganhobet365 visacausa ao artista brasileiro.

O veredito determinou o pagamentobet365 visa8 mil dólares como indenização, mais 200 mil pelos royalties retidos.

Genival Melo, empresário do cantor, declarou à imprensabet365 visafevereirobet365 visa1969: "Nossa surpresa maior foi quando vimos aquibet365 visaSão Paulo, lançado pela CBS, um discobet365 visaCarlos José, vertido do espanhol, sob o título Tudo Passará. Não era outra, senão a cançãobet365 visaNelson Ned. Isso é o cúmulo, pois a música é brasileira."

Dois meses depois, por influênciabet365 visaGenival, a Copacabana Discos lançou um compacto com a faixa, agora na vozbet365 visaNelson.

Jábet365 visamaio, essa versão lideraria paradas radiofônicas por todo o país, às vezes superando os Beatles e Roberto Carlos. Imediatamente, a gravadora anunciou o segundo álbum do artista mineiro — também intitulado Tudo Passará.

Ao posar para a capa do LP, Nelson exigiu uma fotografia que ressaltassebet365 visaestatura. Na imagem, ele aparece sentado, balançando as pernas sobre um imponente contrabaixo, com partituras ao fundo. O cantor assinava nove músicas do disco.

"São composições autobiográficas", afirma Barcinski.

"Nas entrelinhas, percebemos que abordam a vidabet365 visaum homem rechaçado por ser pequeno. É um álbum muito triste e pesado, sobre as angústiasbet365 visaalguém que não corresponde a certos padrões sociais."

Todas as letras foram escritas na primeira pessoa. Além da faixa-título, inspirada no relacionamentobet365 visaNelson com uma prostituta, o disco trazia Camarim, registro confessionalbet365 visasua existência solitária, e Tamanho não é Documento,bet365 visaque o artista discorre explicitamente sobre nanismo.

"Você vive sempre a brincar comigo / Pode judiarbet365 visamim, que eu nem ligo / Sou pequeno, mas meu coração é grande / Bem maior do que o seu / Que já não cabe mais ninguém / Tamanho não é documento / Pelo menos tenho sentimento / Mas isso é coisa que você não tem."

O 'cantor do povão'

Fachada anuncia showbet365 visaNelson Ned

Crédito, Acervo pessoal/Raymundo Vigna

Legenda da foto, A fachadabet365 visaum cassino mexicano exibe o epíteto pelo qual o cantor se tornara conhecido: O Pequeno Gigante da Canção

A partirbet365 visa1970, emissoras portuguesas levariam músicas do álbum às colônias lusófonas da África. No ano seguinte, Nelson Ned realizou uma turnê por Angola e Moçambique.

"É difícil entender como ele se tornou uma celebridade por lá", explica Barcinski.

"Ainda não existia televisão nesses países, e os jornais locais não publicaram nenhuma reportagem sobre o Nelson. O mais provável é que tenha sido um fenômeno puramente radiofônico. Os africanos ouviambet365 visaobra e se apaixonavam, talvez pelo fatobet365 visaserem músicas sobre pessoas mal tratadas, que sofriam humilhações na vida."

Nelson desembarcoubet365 visaLuanda, capital angolana,bet365 visa16bet365 visaabrilbet365 visa1971. Na pista do aeroporto, foi cercado por uma multidãobet365 visafãs incrédulos — nenhum deles sabia que o astro tinha nanismo.

Para confirmar a própria identidade, subiu nas costasbet365 visaseu empresário e cantou Tudo Passará — o público, então, o acompanhoubet365 visauníssono. Foi a primeira vez que uma plateia estrangeira demonstrou idolatria por ele.

"Essa é uma das características que levam o Nelson a ser tão popular lá fora", analisa Barcinski.

"Ele fala sempre pela perspectiva dos excluídos. Em suas músicas, indivíduos buscam algo, mas isso gera frustrações e cenasbet365 visaintenso drama."

"A sensibilidade dele sempre foi muito latina, desbragada, romântica, com forte inclinação ao bolero. Quando ele canta, a gente consegue visualizar claramente um montebet365 visamarmanjos aos prantos, enchendo a carabet365 visatequila numa boate do México."

Na terra dos mariachis, o brasileiro era um fenômeno:bet365 visa1984, o programa Globo Repórter noticiou que seus discos estavam entre os mais vendidos pelas lojas mexicanas, perdendo apenas para Michael Jackson e Silvia Tapia, uma cantora pop local.

O cartunista Henfil, que à época residia nos EUA, escreveu: "Nelson Ned é um dos mais importantes cantores do povão porto-riquenho nos EUA".

Da sacadabet365 visaum hotel, Nelson Ned acena para multidão na rua

Crédito, Acervo pessoal/Monalisa Ned

Legenda da foto, Da sacadabet365 visaum hotel, Nelson Ned acena para fãs

O mineiro tinha 23 anos quando visitou Nova York pela primeira vez, a convite do Festival da Canção Latino-Americana. Sua apresentação, transmitida ao vivo para todo o continente, renderia a ele comparações com o francês Charles Aznavour.

Após o evento, a gravadora americana United Artists lançou Canción Popular, primeiro álbumbet365 visaNelson Nedbet365 visaespanhol — e seu passaporte para o mercado internacional.

Em Iñapari, na fronteira da Bolívia com o Peru, o Jornal do Brasil testemunharia: "Os soldados, nessa cidade pacata, tranquila, quase parada, perguntam se temos discosbet365 visaRoberto Carlos e Nelson Ned. Permanecem o dia inteiro, com uma velha vitrola movida a pilha, ouvindo dois compactos desses cantores."

Em 1973, o cantor aterrissou na Colômbia, apresentando-se para 80 mil pessoasbet365 visauma arenabet365 visaBogotá.

No ano seguinte, realizou 72 showsbet365 visacassinos mexicanos e 22 espetáculosbet365 visaMiami.

Meses depois, lotaria, por duas noites consecutivas, o Carnegie Hall — a mais importante casabet365 visaNova York,bet365 visacujo palco João Gilberto e Tom Jobim haviam se revelado aos americanos.

O país dos rótulos

Ligado à bossa nova e casado com Elis Regina, o músico Ronaldo Bôscoli foi o maior detrator públicobet365 visaNelson Ned, a quem se referia como um "anãozinho ridículo". O astro não tardou a se manifestar.

"Esse senhor Bôscoli é personalidade fraca. Apesarbet365 visaser um compositor, ele aparece mesmo é através do nomebet365 visasua mulher. Do que se esquece é que as letras que faço são viris, ao contrário das dele, que são afeminadas. Eu jamais faria um troço parecido com O Barquinho ou Lobo Bobo", disse Ned.

A relaçãobet365 visaNelson com a imprensa já não era mais a mesma. O tom paternalista das primeiras reportagens cedera espaço a uma avalanchebet365 visaataques àbet365 visaobra: dizia-se que o repertório era brega e que as letras primavam pelo mau gosto; os arranjos seriam cafonas, e a voz, excessivamente sentimental.

Como todos os cantores românticosbet365 visasua época, foi acusadobet365 visaescapismo e alienação.

"Com alguma diplomacia, o Nelson talvez assegurasse seu lugar na história da música brasileira", afirma Barcinski.

"Mas ele nunca foi um tipo apaziguador. Quando voltava dos EUA ou do México, esfregava o próprio sucesso na cara dos críticos."

"Ele muitas vezes exagerava, mas não deixabet365 visaser incrível que um jovem supostamente bronco, nascido no interiorbet365 visaMinas Gerais, tenha peitado todo o status quo da mídia brasileira. Suas entrevistas erambet365 visauma violência enorme."

Definindo o Brasil como o "país dos rótulos", Nelson Ned partiu para o ataque: "O artista popular da minha linha não tem que se preocupar com a imprensa. Quem tem que se preocupar com a imprensa é Djavan, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Chico Buarque, porque eles vivem da imprensa. Nós, não." bet365 visa

"Somos cantoresbet365 visarádio AM, somos homens do povo. Eu venho das massas populares, não fui criado nas elitesbet365 visaIpanema ou do Leblon, nem represento essa bandeira esquerdizante, indefinida sexualmente. Eu represento o homem brasileiro, a passionalidade latino-americana e toda a virilidade que existe no bolero e na balada."

Sobre os medalhões da MPB, enfileirava termos pouco amigáveis: "esquerdalha", "manipuladores do poder", "exploradores do pobre", "cantores da desgraça alheia", "cafetões da miséria brasileira".

"Os metalúrgicos do PT gostam mesmo ébet365 visaNelson Ned, Roberto Carlos, Agnaldo Timóteo e Ângela Maria."

Politicamente, mostrava-se conservador, tendo se recusado por toda a vida a fazer showsbet365 visaCuba.

"Não canto para ditadores", disse.

No entanto, fez turnês por diversos países com regimes autoritáriosbet365 visadireita — a Argentinabet365 visaJorge Rafael Videla, o Haitibet365 visaJean-Claude Duvalier, a Espanhabet365 visaFrancisco Franco e a África do Sul nos anos do apartheid.

Ao mesmo tempo, criticava Augusto Pinochet, defendia as Diretas Já e mantinha forte laçosbet365 visaamizade com o escritor colombiano Gabriel García Márquez — um fã confessobet365 visasua música e apoiador declaradobet365 visaFidel Castro.

"Nelson se definia como um homembet365 visacentro", observa Barcinski. "Hoje,bet365 visameio a tanta polarização, seria obviamente jogado na vala dos direitistas. Mas suas letras e declarações públicas não condiziam com essa imagem estereotipadabet365 visasujeito reacionário. Ele sempre defendeu os direitos das minorias."

Para surpresabet365 visamuitos, o cantor abraçava pautas LGBT e denunciava o racismo da sociedade brasileira.

"Sou uma pessoa que aposta no amor ebet365 visatodas as suas consequências", disse.

"Inclusive tenho músicas com letras ambíguas, que insinuam o bissexualismo. Acontece que nossa cultura é discriminativa — preto na cozinha, cego na esquina, anão no circo, gay no picadeiro. Ou no banco dos réus, onde a TFP (Tradição, Família e Propriedade, organização civil tradicionalistabet365 visadireita que apoiou a ditadura militar) é o maior carrasco."

Segundo Monalisa, o pai antipatizava com o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Mas,bet365 visacostumes, era muitobet365 visaesquerda", diz. "Ele sempre respeitou os funcionários, era a favorbet365 visatodos os direitos trabalhistas. Um conservador geralmente não dá a mínima para as pessoas, nunca pensabet365 visalavar a própria louça, acha absurdo um empregado tirar licença porque quebrou o pé."

'Nedlândia'

Monalisa e Verônica, filhasbet365 visaNelson Ned, se acomodam junto ao pai e ao apresentador Chacrinhabet365 visasala

Crédito, Reprodução/Instagram/@nelsonned.oficial

Legenda da foto, Monalisa e Verônica, filhasbet365 visaNelson Ned, se acomodam junto ao pai e ao apresentador Chacrinha

As filhas garantem que tiveram uma infância suave, apesar da infidelidade paterna. Nelson Ned Junior, o irmão mais velho, nasceubet365 visa1971, e Verônica,bet365 visa1973. Monalisa é frutobet365 visauma relação extraconjugal, e veio ao mundo no mesmo ano que o primogênito.

A família morava numa luxuosa mansão no Alto da Boa Vista, zona sulbet365 visaSão Paulo.

"Meu pai era muito lúdico e contava histórias para a gente", lembra Monalisa.

"Ele vivia falando coisas sobre a Nedlândia, um reino feliz onde só tinha cidadãos pequenos como nós quatro. Meu pai era o rei, eu e a Verônica éramos as princesas, e meu irmão, o príncipe. Pessoas grandes não entravam na Nedlândia, a não ser como bobos da corte, para nos servir. E a gente se achava, por ter um país só nosso."

A estratégiabet365 visaNelson proporcionaria autoestima às crianças.

"Eu nem lembrava que tinha nanismo", relata Verônica. "A menos que alguém colocasse objetos numa prateleira muito alta. De resto, a gente tinha uma vida normal. Ninguém ficava parado, pensando nisso. A gente foi viver."

Contudo, as meninas dificilmente viam outras pessoas na mesma condição.

"Hoje, percebo que ficavam todos bem escondidos", diz Monalisa.

Nelson se ausentava oito meses por ano. Longe da esposa e dos filhos, emendava shows internacionais com orgiasbet365 visasuítesbet365 visahotel. No final dos anos 1970, seu casamento ruiu.

"A separação dos meus pais até que foi tranquila", afirma Verônica. "Mas quando chegamos à adolescência, tudo piorou. Foi quando ele se tornou um cara bêbado e drogado, superagressivo. A gente passava inúmeros perrengues, ia pra cama sem saber se acordaria viva. A vontade dele erabet365 visaescurecer a casa na bala."

Nelson vinha sofrendo dores nas costas, provocadas pelas sucessivas viagensbet365 visacarro e avião. Para aplacá-las, automedicava-se com morfina — substância que lhe causaria sérios problemas oculares. Em 1976, perdeu a visão do olho direito; logo depois, viciou-sebet365 visacocaína.

Cada vez mais obcecado por armas, mantinha embet365 visaresidência uma pistola Beretta, um revólver calibre 38 e um Colt 45 banhado a ouro, que ganharabet365 visaArturo Durazo Moreno — guarda-costas do então presidente mexicano, José López Portillo, e chefe do Departamentobet365 visaPolícia na capital do país.

Nelson Ned, no palco, beija florbet365 visafrente a mulher e olhabet365 visaforma compenetrada para ela

Crédito, Acervo pessoal/Monalisa Ned

Legenda da foto, Nelson Ned seduz uma fã: Após as apresentações, o cantor realizava orgias nas suítes dos hotéis

O vínculo com governistasbet365 visacentro-direita permitiria a Moreno ser nomeado general cinco estrelas, ainda que nunca tivesse seguido carreira militar —bet365 visafortuna multimilionária provinha basicamente do narcotráfico, alémbet365 visasequestros e assassinatos por encomenda.

Em 1978, ele assistiu a um showbet365 visaNelson Ned na Cidade do México, enviando uma frotabet365 visacarros oficiais para buscá-lo num resort. Dali, iriam para uma confraternização nabet365 visacasabet365 visacampo — uma enorme propriedade com lagos, hipódromo e uma réplica da discoteca nova-iorquina Studio 54.

Na Colômbia, a situação não era muito diferente. Traficantes locais despachavam aeronaves para São Paulo, a bordo das quais o brasileiro se dirigia a mansões particulares.

Quando não cantavabet365 visafestas do crime organizado, Nelson fazia showsbet365 visaboates gerenciadas pelos cartéisbet365 visaCali e Medellín — Pablo Escobar esteve presentebet365 visamuitos desses eventos.

Tais excessos se intensificariam a partirbet365 visa1980, quando o artista conheceu Cida Rodrigues, a segunda esposa, mortabet365 visa2018. O casal saía todas as noites e voltava apenas pela manhã, ambos sob efeitobet365 visauísque e cocaína.

Durante a ressaca, irrompiam as brigas: Cida punha as roupas do marido no chão e ameaçava queimá-las; Nelson disparava contra o teto da sala.

Num sábado, 9bet365 visaabrilbet365 visa1988, os filhos acordaram com um estampido. "Encontrei o patrão chorando", diria Manoel Antônio Ramos, o motorista da família. "Havia manchasbet365 visasangue no hallbet365 visaentrada e no caminho para a porta."

O jornal O Globo anunciaria embet365 visacapa: "Nelson Ned tenta matar a mulher com tiro no peito".

Últimos boleros

Nelson chegou ao noticiário policial num períodobet365 visaintensas transformações do mercado fonográfico.

Naquele momento, o rádio brasileiro encontrava-se dividido:bet365 visaum lado estavam as emissoras FM, com som estéreo e programação jovem, focadabet365 visapop rock; do outro, o AM, com sinal mais abrangente e ênfase no forró, sertanejo e música romântica.

Aos 40 anos, o cantor saíabet365 visamoda e revelava desconforto com a crescente apatia do público.

"Não quero passar a imagembet365 visaressentido, mas é estranho o que acontece", declarou ao Jornal do Brasil.

"Toco nas FMsbet365 visaNova York,bet365 visaMiami, do México,bet365 visatudo que é grande capital. Menos nas FMs brasileiras. Aqui, me chamambet365 visabrega e boicotam. Ora, são as mesmas rádios que tocam Julio Iglesias e Fábio Jr."

Jábet365 visacasa, mostrava-se aberto ao gosto musical dos rebentos. O quartobet365 visaNelson Ned Junior era forrado com pôsteres do Iron Maiden, AC/DC e outros grupos ligados ao heavy metal; Verônica e Monalisa preferiam Menudo.

Quando a boy band porto-riquenha veio ao país,bet365 visa1985, Nelson promoveu um encontro das filhas com os rapazes, instalando-as no mesmo hotel que eles.

E, ao avistar Gene Simmons e Paul Stanley no Gallery, extinta casa noturna frequentada por ricaços paulistanos, ordenou a seu motorista que buscasse Junior — era a chancebet365 visao primogênito conhecer pessoalmente os integrantes da banda Kiss.

"Lá pelos dezessete anos, entrei numa fase meio rock and roll e não curtia o som do meu pai", lembra Monalisa.

"Eu achava muito lento, melancólico, músicabet365 visavelho. A gente estava numa outra vibe, ouvindo Blitz, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, que eram mais a cara da nossa geração, e ele super entendia."

Capabet365 visadisco mostra Nelson com olhar sériobet365 visadireção à câmera e roupabet365 visaluxo

Crédito, Reprodução/Discogs

Legenda da foto, Lançadobet365 visa1993, El Románticobet365 visaAmérica reunia dezoito clássicos do bolero, e foi o último disco secularbet365 visaNelson Ned. No mesmo ano, o cantor se tornaria evangélico

"Masbet365 visadomingo, ele escutava só o que tinha vontade, aí era Frank Sinatra e Tony Bennett o dia todo. A gente sempre achou legal, era a onda do nosso pai, e estava tudo certo", acrescenta Verônica.

Em 1993, Nelson produziu um álbum inteiramente dedicado ao bolero. Lançado pela gravadora independente Movieplay, El Románticobet365 visaAmérica continha versões para dezoito clássicos do gênero, como Perfumebet365 visaGardenia, Cuando Tu Me Quieras e Perfídia.

O repertório homenageava Javier Solís, Lucho Gatica, Trio Los Panchos e outros artistas hispânicos que marcarambet365 visaadolescência.

"Não sei por que ele gravou El Románticobet365 visaAmérica", afirma Barcinski.

"Imagino que tenha sido uma tentativabet365 visarecuperar suas vendagens no mercado latino. É um disco que está 'pau a pau' com qualquer obra-prima mexicana."

"Você escuta e acha que foi produzidobet365 visaGuadalajara. Mas, para nosso espanto, as gravações ocorreram aquibet365 visaSão Paulo, num estúdio da Vila Mariana, com arranjadores, maestros, um coral e instrumentistas brasileiros, todos escolhidos pelo Nelson."

O cantor, no entanto, havia engordado muito. Sem fôlego, mal conseguia permanecerbet365 visapé. Sua respiração estava comprometida, e pela primeira vez sentiu a voz falhar. Em frente aos colegas, teve uma crisebet365 visachoro.

Outros problemas se sucederam durante as gravações. Nelson cheirava cocaína ininterruptamente, e as desavenças com Cida persistiam.

"Minha casa, uma mansão, era a antessala do inferno", disse ele. "Toda noite havia brigas. Meus vizinhos não dormiam, chamavam a radiopatrulha, eu saía bêbado e insultava os policiais."

Salmos

Os filhos já não residiam no Alto da Boa Vista — expulsos pelo paibet365 visameio a um surtobet365 visaagressividade, espalharam-se por três endereços diferentes.

Entristecidos, buscavam consolo no cristianismo. Hoje, Monalisa e Verônica são evangélicas.

Por indicação da filha caçula, Nelson leria os Salmos da Bíblia, sentindo-se tocado por um versículo que dizia: "Criabet365 visamim, ó Deus, um coração puro, e renovabet365 visamim um espírito reto". Foi o iníciobet365 visasua conversão religiosa.

"Isso salvou a vida dele, e toda a nossa família", declara Verônica. "A gente vivia sempre num medo terrível, mas com aquela pontabet365 visaesperança. Nossa meta era salvá-lo, pois meu pai tinha apenas três caminhos — cadeia, hospício ou cemitério. A gente orava para ficarbet365 visapaz, e por entender que a palavrabet365 visaDeus faria essa transformação."

Naquele mesmo ano, Nelson Ned assinou contrato com a Line Records, selo gospel da Igreja Universal, lançando o álbum Jesus Está Vivo. Entre as doze canções que integravam o LP, quatro erambet365 visasua autoria: além da faixa-título, compôs Quando eu Falobet365 visaJesus, Jesus é a Saída e Para ti, Senhor Jesus.

O cantor nunca mais gravou um disco não religioso.

"Muita gente acha que meu pai renegou a própria obra, mas isso não é verdade", alega Monalisa. "O problema é que ele sempre cantou o que vivia, ebet365 visarepente se viu evangélico, apaixonado por Deus, e só conseguia escrever músicas sobre esse outro tipobet365 visaamor, que é o amorbet365 visaJesus."

Apesar da mudança, Nelson orgulhava-sebet365 visatodo o seu repertório.

"Nos shows, ele ainda cantava os antigos sucessos", afirma Verônica. "Nunca houve empecilhos, porque não tem 'putaria' nessas músicas, é só dorbet365 visacorno. E dorbet365 visacorno, todo mundo sente."

Nelson, agora, apresentava-sebet365 visacultos e templos, ganhando cachês inferiores e vendendo menos discos.

Boates e casas noturnas evitavam contratá-lo para shows, pois viam nas igrejas uma concorrência desleal.

Para economizar o dinheiro das passagens aéreas, o cantor viajava somentebet365 visacarro, atravessando longas estradas na companhiabet365 visaseu motorista. As orquestras e músicosbet365 visaapoio foram substituídos por bases pré-gravadas, que ele mesmo carregavabet365 visaCDs. Quase não recebia propostas no exterior.

Saudadesbet365 visasi mesmo

Nelson Ned com palco e usando microfone

Crédito, Silvio Tanaka/Wikimedia Commons

Legenda da foto, Nelson Nedbet365 visa2008, durantebet365 visaúltima apresentação, na Virada Culturalbet365 visaSão Paulo. Ele sofria com as sequelasbet365 visaum AVC

Certa noite, Cida avisou às enteadas que o marido não estava bem.

"Quando entrei no quarto, vi meu pai caído ao lado da cama", relata Monalisa. "Ele não me respondia, nem se levantava. A gente ligou para uma ambulância e ele foi embora, sem planobet365 visasaúde. Depois desse dia, nunca mais voltou a ser o mesmo."

Nelson tivera um derrame cerebral — após um mêsbet365 visainternação, o AVC o deixaria com a fala prejudicada e sequelas permanentes no lado esquerdo do corpo.

Sua última apresentação ocorreubet365 visaSão Paulo, no dia 26bet365 visaabrilbet365 visa2008, durante o evento Virada Cultural.

Às 19h daquele sábado, visivelmente fragilizado, o artista subiu num palco, esforçando-se para cantar seus clássicos à plateia que se aglomerava no Largo do Arouche.

Dalibet365 visadiante,bet365 visaúnica fontebet365 visarenda seriam os royalties das músicas que compusera ao longo das décadasbet365 visa1970 e 80 — uma verba insuficiente para as despesas básicas da casa.

Ao visitá-lo, familiares se assustavam com os arranhões e hematomas que apareciam embet365 visapele. Um dia, a irmãbet365 visaNelson o resgatou — alegando que o levaria para um passeio, buscou o cantor no Alto da Boa Vista, para nunca mais voltar.

Em programas vespertinos da TV aberta, Cida acusou a famíliabet365 visasequestro. Em 2012, um incêndio destruiu a mansão, reduzindo a cinzas os Discosbet365 visaOuro que Nelson Ned ganhara ao longo da carreira.

Dois anos depois, Verônica visitou o pai numa clínicabet365 visarepouso. As enfermeiras tentavam reanimá-lo — ele havia sofrido um desmaio, agravado por um quadrobet365 visapneumonia. A ambulância o levou para um hospital públicobet365 visaCotia (SP), onde morreria nas primeiras horasbet365 visaum domingo, 5bet365 visajaneirobet365 visa2014.

As filhas consideram que esse foi o desfechobet365 visaum caminho vitorioso.

"Meu pai levou pontapés e sofreu doresbet365 visaamor", reflete Monalisa. "Mas também foi uma criança querida e um homem resiliente, mesmo na doença. Ainda acordo com frases dele ecoando dentro da minha cabeça. No fim da vida, ele sempre me perguntava se eu era uma pessoa feliz. E isso é muito bonitinho, sabe?"

Para Verônica, o percursobet365 visaNelson Ned deve ser narrado integralmente, sem omissões.

"Acho importante falar sobre drogas, violência e alcoolismo", diz. "Querendo ou não, foi a história dele, é impossível mudar esse fato. E não acho que meu pai tenha morrido feliz, porque ele sentia saudadesbet365 visasi mesmo, da própria essência."

"Mas com certeza, ele partiubet365 visapaz. Eu sei para onde ele foi. E acredito que lá, esteja muito melhor do que todos nós aqui."